"- São ervas daninhas, Mary - replicou o Patrão, pousando o cálice no tabuleiro, com força, como se quisesse esmagar essas ervas. - De onde é que elas vêm se a Mary não as semeou?
- Ora, o ar deve andar cheio delas, senhor - respondi. - Porque há tantas que vemos as florestas cheias delas e ninguém as semeou. Mas o que não percebo é por que razão as ervas daninhas, assim que encontram um bocado de terra, crescem com mais força do que as coisas que nós queremos que cresçam.
- E tem alguma resposta para essa pergunta, Mary? - quis saber o Patrão.
- Tenho pensado nisso, senhor - atrevi-me. - Acho que, por serem selvagens, têm mais desejo de viver.
O Patrão deitou-me um sorriso sinistro e repetiu o que dissera, como se fosse uma verdade profunda que lhe caíra do céu.
- Creio que isso acontece com quem não tem nada, e com as crianças, também - prossegui -, que crescem fortes quando ninguém cuida delas, parecem amar a vida que conseguem arrancar ao mundo e são capazes de matar para a conservar, enquanto uma criança mimada adoece e morre."
Valerie Martin, Mary Reilly, trad. Maria Filomena Duarte, Lisboa: Círculo de Leitores, 1996, pp. 58-59.
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