"Meu Deus, como compreendo a tua hora,
quando tu, para que ela no espaço se arredondasse,
a voz à tua frente colocaste outrora;
para ti o nada era como uma ferida que não sarasse,
e tu refrescaste-a com o mundo.
Agora sara baixinho entre nós.
Pois os passados bebiam
as muitas febres que no doente apareciam,
nós já sentíamos, em suaves oscilações que se abriam,
o pulso calmo do fundo.
Sobre o nada descansamos como abrigo
e cobrimos todas as rupturas;
mas tu cresces para o desconhecido
à sombra do teu rosto sem fissuras."
Rainer Maria Rilke, O Livro de Horas, 2.ª ed., trad. Maria Teresa Dias Furtado, Lisboa: Assírio & Alvim, 2020, p. 113.
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