"Que triste o olhar do cão! Até parece
Mais um queixume, um íntimo lamento
Da noite interior que lhe escurece
O coração, que é todo sentimento.
E os mansos bois soturnos! Que tormento,
Em seus olhos, tão calmos, transparece...
E os olhos da ovelhinha os do jumento!
Que tristes! Só o vê-los entristece...
Chora, em todo o crepúsculo, a tristeza.
E, além o ser humano, a Natureza
É lívida penumbra feita de ais...
Por isso, o vosso olhar de escuridão
É mais lágrima ainda que visão,
Ó pobres e saudosos animais!"
Teixeira de Pascoaes, As Sombras, Lisboa: Assírio & Alvim, 1996, p. 77.
No comments:
Post a Comment