"Uma aranha, depois de ter explorado toda a casa por dentro e por fora, decidiu meter-se no buraco da fechadura. Que belo esconderijo! Quem a iria descobrir ali dentro? Ela, pelo contrário, assomando à borda da fechadura podia ver tudo sem correr nenhum risco.
- Ali - dizia ela para consigo, olhando para o umbral da porta, estenderei uma teia para as moscas; mais além - acrescentava, observando a escada - tecerei outra para os vermes e aqui mesmo, no marco da porta, armarei uma cilada pequenina para apanhar mosquitos.
A aranha estava toda feliz. O buraco da fechadura dava-lhe uma nova e extraordinária segurança. Tão escuro e apertado como um estojo de ferro, o buraco da fechadura parecia-lhe mais acessível que uma fortaleza, mais seguro que qualquer armadura.
Enquanto se deleitava com estes pensamentos, chegou-lhe aos ouvidos um ruído de passos; prudentemente, recuou para o fundo do seu refúgio.
Alguém ia entrar em casa. Tiniu uma chave que penetrou no buraco da fechadura e esmagou a aranha."
Leonardo Da Vinci, Fábulas, trad. Orlando Neves, Lisboa: Editora Prefácio, 2006, p. 15.
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