"- Acha - disse eu em seguida - que nunca vai confiar plenamente em mim?
Ela virou-se a sorrir, mas não deu qualquer resposta, apenas continuou a sorrir para mim.
- Não vai responder? - disse eu. - Não pode responder amigavelmente. Eu não devia ter perguntado.
- Fez muito bem em perguntar-me isso, ou qualquer outra coisa. Não sabe como é querida por mim ou não pode imaginar nenhum segredo grande de mais para saber. Mas estou sob juramento, nenhuma freira faria um voto tão terrível e não ouso contar a minha história ainda, até mesmo para si. Está muito perto o tempo quando deverá saber de tudo. Acha que sou cruel, muito egoísta, mas o amor é sempre egoísta; quanto mais ardente, mais egoísta. O quanto sou ciumenta não pode imaginar. Deve vir comigo, amar-me à morte ou então odiar-me e ainda vir comigo. E odiar-me na morte e depois. Não existe a palavra indiferença na minha apática natureza.
- Agora, Carmilla, vai falar com seu extravagante disparate novamente? - disse eu apressadamente."
Sheridan Le Fanu, Carmilla, trad. Mafalda Silva, Lisboa: QuidNovi, 2010, p. 45.
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