"Toda a fotografia é um certificado de presença. Esse certificado é o gene novo que a sua invenção introduziu na família das imagens. As primeiras fotos que um homem contemplou (Niepce diante da Mesa Posta, por exemplo) devem ter-lhe parecido tão semelhantes a pinturas como duas gotas de água (sempre a camera obscura); contudo, ele sabia que se encontrava face a face com um mutante (um marciano pode assemelhar-se a um homem.) A sua consciência colocava o objecto encontrado fora de toda a analogia, como o ectoplasma «daquilo que tinha sido». Nem imagem, nem real, um ser novo, verdadeiramente: um real que já não pode ser tocado.Talvez tenhamos uma resistência invencível em acreditar no passado, na História, a não ser sob a forma de mito. Pela primeira vez, a Fotografia acaba com essa resistência: o passado é, a partir de agora, tão seguro como o presente, aquilo que se vê no papel é tão real como aquilo que se toca. É o advento da Fotografia - e não, como foi dito, o do cinema, que partilha a história do mundo."
Roland Barthes, A Câmara Clara (Nota sobre a fotografia), trad. Manuela Torres. Lisboa: Edições 70, 2008, p. 98.
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