"Já afirmei que a actividade da consciência é uma alucinação congénita. Como a nossa origem é aquática, a vida é o ritmo perpétuo de uma água amornada. Temos água no ventre e nos ouvidos. Percebemos o ritmo universal no peritoneu, que é o nosso tímpano cósmico, um contacto colectivo. O nosso primeiro sentido individual é o ouvido, que percebe os ritmos da nossa vida particular, individual. É por isso que todas as doenças começam por perturbações auditivas que são, à semelhança das eclosões da vida submarina, a chave do passado e as primícias de um devir inexaurível. Portanto, não era que eu, médico, quisesse fazer parar semelhante desenvolvimento. Encarava antes a possibilidade de acelerar, de multiplicar esses acidentes tónicos e de conseguir realizar, mediante uma modificação prodigiosa, o acorde perfeito de uma nova harmonia. O futuro."
Blaise Cendrars, Moravagine, trad. Ruy Belo, 2ª ed., Lisboa: Cotovia, 1992, p. 38.
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