Tuesday, November 1, 2011

A EXCELENTE SENHORA (DIA DE TODOS-OS-SANTOS)



"- Oh, não! - respondeu ela. - É a invenção duma cabeça mais forte que a minha. Como é possível que tenhais estado três meses em Lindenberg sem ter ouvido falar da monja sangrenta?
- Sois a primeira pessoa a quem ouço pronunciar o seu nome. Peço-vos, quem é essa dama?
- Não vos poderei dizer mais do que sei, que não é muito. Trata-se de uma velha tradição desta família, tradição que se transmitiu de pais para filhos, e à qual se dá crédito firme nos domínios do barão. Ele próprio a crê, e quanto à minha tia, que é naturalmente arrastada pelo maravilhoso, ela duvidaria mais depressa da verdade da Bíblia do que da monja sangrenta. Quereis que vos conte a história?
Respondi-lhe que ela me obsequiaria muito ao fazê-lo. Retomou o desenho e prosseguiu nestes termos, num tom de gravidade burlesca:
- É surpreendente que em nenhuma das crónicas dos tempos passados se faça menção desta notável personagem. Gostaria bem de vos contar a sua vida, infelizmente foi só depois da sua morte que a sua existência se tornou conhecida. Foi então, e pela primeira vez, que ela entendeu ser necessário fazer barulho no mundo, e, com essa intenção, apoderou-se do castelo de Lindenberg. Como tinha bom gosto, alojou-se na mais bela sala da casa e, uma vez ali instalada, divertiu-se a fazer dançar as mesas e as cadeiras no coração da noite. Talvez tivesse insónias, mas não é coisa que eu tenha podido verificar. Segundo a tradição, esse divertimento começou há cerca de cem anos; era acompanhada por gritos, uivos, gemidos, juramentos e outros ruídos agradáveis da mesma espécie. Embora a citada sala fosse especialmente honrada com as suas visitas, a verdade é que ela não se limitava a esse aposento; de tempos a tempos, aventurava-se nas velhas galerias, ia e vinha pelas vastas salas e por vezes, parando às portas dos quartos, chorava e lamentava-se com grande pavor dos seus habitantes. Nessas excursões nocturnas foi vista por várias pessoas que lhe descrevem o aspecto exterior tal como aqui o vedes, traçado pela mão do seu indigno historiador."
Matthew Gregory Lewis, O Monge, trad. Egito Gonçalves, Porto: Editorial Inova, 1974, pp. 129-130.

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