"Estas novas e pitorescas adições ao panorama doméstico significaram ócio e abundância, e com eles chegou a primeira investida de pinturas de vasos e os primeiros versos dos poetas que povoaram os rios de ninfas, os bosques de carvalhos de dríades, as cavernas de Pãs e centauros e as florestas de sátiros e selenos. Na cultura que daí adveio cada planta e cada flor tinha a sua história, a sua ligação à natureza interior mitopeica do homem - de que ele só pode aperceber-se quando tem uma oportunidade de sonhar. Sim, Martine, foi isso! Uma oportunidade de sonhar! Assim se transformou Dafne em loureiro, assim quebrou Perséfone o jejum debicando bagos de romã - e a própria poesia foi domesticada."
Lawrence Durrel, Carrocel Siciliano, trad. Fernanda Pinto Rodrigues, Lisboa: Livros do Brasil, 1992, p. 93.