Al Berto, Diários, Lisboa: Assírio & Alvim, 2012, p. 108."Os deuses abandonaram-me, os deuses roubaram o pouco que me restava de felicidade. Melhor era terem levado também esta ânsia de permanecer. Nada me consola. Absolutamente nada.Passei a amedrontar-me à vista do meu reflexo. Odeio-me. Vou rasgar todas as imagens onde me reconheço. Vou rasgar os espelhos que surgem dentro dos sonhos. Rasgar o dia pela linha da madrugada e regressar à noite, à inacreditável noite dos apagados.Deixar que a água do tempo devore tudo, deixar que o tempo se transforme em água.E o corpo não conseguirá nunca viver entre a penumbra e a alba, esse espaço aberto a todas as paixões.Regar as plantas, esperar a visita dos amigos demorar-me a olhar o mar, e não ver mar nenhum, e nenhum amigo chegar, e esperar que as plantas morram de sede.Enfim, a noite sossegará o meu desespero."
Thursday, January 10, 2013
ABANDONO / NARCISUS
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