"Um canhão que quebra as suas amarras transforma-se subitamente em não se sabe que fera sobrenatural. É uma máquina que se transforma num monstro. Essa massa corre sobre as suas rodas, tem movimentos de bola de bilhar, desliza com os balanços, mergulha quando a nave afocinha, vai, vem, detém-se, parece meditar, retoma a sua corrida, atravessa o navio de um extremo ao outro como uma flecha, volta-se, esquiva-se, evade-se, encabrita-se, choca, racha, mata, extermina. É um ariete que bate caprichosamente contra uma muralha de madeira. É a entrada em liberdade da matéria; dir-se-ia que essa escrava eterna se vinga; é como se a maldade que existe naquilo a que chamamos corpos inertes surgisse e estourasse num repente; como se perdesse a paciência e tirasse uma estranha e obscura desforra; nada é mais inexorável do que a cólera do inanimado."
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