Tuesday, July 2, 2013

DA VIOLÊNCIA E DO CONHECIMENTO


"Do mesmo modo, não há várias tonalidades para o amor. Por uma razão simples: o amor dá muito trabalho, pois é fruto de uma inteligencia ecuménica, que conhece só quando mais quer conhecer, e de um espírito reflexivo intimamente desperto para a diversidade do Uno. Quem defendeu algo semelhante a isto caminhava para a fogueira, há trezentos anos atrás, com uma máscara de ferro de onde saía um enorme prego que lhe entrava pela boca e lhe perfurava o palato até ao nariz. Esse homem chamava-se Giordano Bruno, e era um homem de amor, isto é, um homem que soube utilizar a sua violência para se tentar compreender a si mesmo, ao mundo e ao universo, caminhando sempre no sentido de mais compreensão, isto é, de mais violência para se compreender a si mesmo, ao mundo e ao universo, não excluindo nada, mas ecumenicamente incluindo tudo na mais bela das harmonias. A sua fé era o conhecimento, que sobreviveu à tortura e, finalmente, às chamas do auto-de-fé levado a cabo por piedosos agentes da verdade. A sua fé era o conhecimento, e o seu conhecimento é, para mim, o seu amor. A sua fé era o conhecimento, e esse conhecimento era, para quem o matou, uma violência feita à verdade, e que devia ser punida com a tortura e a morte."
  Manuel Frias Martins, As Trevas Inocentes, Lisboa: Aríon Publicações, 2001, pp. 20-21.

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