"Pois eis que um povo domina, outro sucumbe conforme os caprichos da Fortuna, serpente oculta na relva da campina. Contra ela de nada valem o vosso poder e o vosso querer. Ela provê, ajuíza e rege em seu domínio, como sobre ela mesma impera a vontade divina. Sem jamais cessar, vai provendo as suas mudanças, pois ser veloz é imperativo da Fortuna. É por isso que, no mundo, tanta sorte tão rapidamente muda. Tal é a Fortuna, muita vez insultada com censuras injustas, mesmo por aqueles que razões teriam para louvá-la. Feliz, porém, nada disso ela escuta. Primitiva como as criaturas originais, em ser como é encontra a sua felicidade. Mas agora desçamos a ver o espetáculo ainda mais triste. Já desmaiam as estrelas que brilhavam quando partimos. Mais tempo não podemos estar aqui."
Dante, A Divina Comédia, "Inferno", canto VII, trad. Hernâni Donato, São Paulo: Abril Cultural, 1981, pp. 46-47.
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