"As artes da compreensão (hermenêutica) são tão variadas quanto os seus objectos. Os signos são ilimitados, tanto nos seus modos combinatórios como nas suas potencialidades de significação. Não há nada de mais exasperante na condição humana do que o facto de nós podermos significar e/ou dizer seja o que for. Esta infinidade semântica implica uma variedade ilimitada de abordagens à interpretação. No caso da linguagem, de qualquer forma de discurso ou texto, de qualquer acto de fala, as palavras correm atrás das palavras. Não há, a priori, nenhuma limitação para os modos pelos quais essa busca, esta demanda de significação, pode ser conduzida. As palavras que usamos para elucidar ou parafrasear ou interpretar («traduzir») as palavras da mensagem, do texto diante de nós, partilham com essa mensagem ou texto uma radical indecidibilidade. São, como nos ensinou a linguística depois de Saussure, marcadores arbitrários, convencionais. Um «cavalo» não se parece mais com um cavalo do que um «cheval». Uma liberdade formal associa-se ao signo."
George Steiner, Errata: revisões de uma vida, trad. Margarida Vale de Gato, Lisboa: Relógio D'Água, 2009, p. 29.
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