"A propósito de ratazanas, aí vai um preceito doméstico, que merece ser contado.
Os chinas consideram o rato como o animal mais sagaz e pressentido. Nunca uma dona de casa dirá à sua criadinha: - «vai armar a ratoeira a ver se apanhas algum rato.» - Dirá: «vai armar a gaiola, a ver se apanha algum bicho de quatro pés.» - A razão é convincente: se indicasse o rato pelo seu verdadeiro nome, o finório, que tudo escuta, ficava inteirado do que se tramava contra ele; e não aparecia, é claro.
Com as formigas, procede-se por uma forma análoga. Diz-se: - «esconde este pastel daquelas gulosas.» - Se alguém cometesse a imprudência de nomeá-las, era o bastante para que elas exclamassem entre si: - «olá, manas, temos mina!» e ei-las em legiões, à força de pesquisas, indo dar com o apetitoso pastel."
Wenceslau de Moraes, Traços do Extremo Oriente, Lisboa: Círculo de Leitores, 1974, p. 115.
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