"Tal é a tua grandeza, que eu nem sequer existo,
quando apenas de ti me aproximo, por ti visto.
Tu és tão obscuro; a minha pequena claridade
na tua orla não faz qualquer sentido na realidade.
Como uma onda passa a tua vontade
e cada dia nela se afoga de verdade.
Apenas a minha saudade pode ao teu rosto chegar
para diante de ti como o maior dos Anjos ficar:
estranho, ainda não liberto e a empalidecer,
suas asas para ti a estender.
Um voo sem margens já não quer,
pelo qual passavam luas macilentas,
e dos mundos há muito é pleno o seu saber.
Com suas asas quer como com chamas lentas
diante de teu rosto de sombras permanecer
e quer no seu branco brilho ver,
se tuas sobrancelhas de cinza o estão a mal querer."
Rainer Maria Rilke, O Livro de Horas, trad. Maria Teresa Dias Furtado, Lisboa: Assírio & Alvim, 2008, p. 83.
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