"O monge velador do que estava (seria preferível dizer «do que está», pois tudo o que estava então lá continua preso ao confronto com o tempo passado e com o tempo que lhe foi futuro) além da Porta dos Mortos esperava que da sua compaixão (de que era um aprendiz, alguém que tentava aceder à libertação do absoluto domínio do amor por si mesmo) nascesse a capacidade de ser mais activo, isto é, que essa compaixão inicial, na qual progredia como qualquer artesão progride na sua arte, nascesse um varrer menos carregado de folhas secas e de emaranhados ramos de silvas, sangradores das suas mãos, rosto, braços e do corpo todo. Os espinhos das silvas, rosáceas que são de amargura, haveriam de despertar em si o espírito de um dos melhores mestres, ao modo de São Bernardo."
João Miguel Fernandes Jorge e Pedro Calapez, O Próximo Outono, Lisboa: Relógio D'Água, 2012, p. 38; 40.
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