Friday, November 30, 2018
EM TÃO GRANDE ESPLENDOR
"Pela palavra nasceram todas as coisas
Em amorosa torrente foram nomeadas
Foram sonhadas desejadas e criadas
O Aberto abria os mundos em sossegado fluir
Em sucessão de luz e escuro
De terra e água
E todas as coisas eram plenas e inteiras.
O primeiro homem a primeira mulher
Na vibração total do ser de cada um
Em uníssono com a Unidade
Em diálogo de igual para igual.
A palavra depois foi sombra e foi engano
Na primeira ferida que a todos feriu
E o Jardim se perdeu e foi desabitado.
A dor e a morte invadiram a vida
E o trabalho foi ganho com o suor do rosto.
As origens retornam como eco e visão
Mais não pode vislumbrar o coração
Ver essa falha redimida e colmatada
E o brilho recobrir a palavra clareada
Em tão grande esplendor como se não brilhasse
Perpassando o trabalho e o suor
Com o ouro do amor.
E ver o fogo que consome sem destruir
No labor de polir e esculpir
Este nosso rosto sempre inacabado
Longe e perto do que foi criado."
Maria Teresa Dias Furtado, Livro de Ritmos, Lisboa: Labirinto, s.d., p. 73.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment