"Como me tinha ficado a olhar para eles, o meu pai levantou a voz:
- Deves saber o que fica do jantar de casamento quando os convivas e os noivos abandonam a sala. A primeira luz da madrugada vem exibir a desordem que lá deixaram. Jarros quebrados, mesas de pernas para o ar, brasas apagadas, tudo conserva a marca de um tumulto que petrificou. Mas não penses que é a ler estas marcas que tu aprendes seja o que for sobre o amor.
- O ignorante, ao sopesar e remirar de um lado e do outro o livro do Profeta, ao quedar-se no desenho dos caracteres ou no ouro das iluminuras, passa ao lado do essencial, que não reside no objecto vão, mas sim na sabedoria divina. O essencial do círio, por exemplo, não é a cera que deixa a marca, mas sim a luz que liberta."
Antoine de Saint-Exupéry, Cidadela, trad. Ruy Belo, 3.ª ed., Lisboa: Editorial Aster, 1973, pp. 20-21.
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