OURO
"O homem sofre e geme. A existência
é agra, é fel servido em taça d'ouro.
O riso do feliz é a cal do túmulo:
há de vermes lá dentro um roer surdo.
Tais júbilos não vêm ungidos d'alma.
Do coração ao rosto o pensamento
de remorso que foi torna-se em riso.
Não é o pobre só vítima do ouro:
primeiro, o rico geme escravo dele,
escravo, sim, que eu perscrutei o fundo
de muitas almas vis, e contristado,
ousei dizer a Deus - que extrema escória
devera o homem ser.
Quais os felizes?"
Camilo Castelo Branco, Ao Anoitecer da Vida, Mem Martins: Publicações Europa-América, 1999, p. 109.
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