Wednesday, November 21, 2018

ÉTER


"Ditosa Grécia! Morada de todos os Celestiais, 
    É então verdade o que ouvimos dizer na nossa juventude?
Sala festiva! O soalho é o mar! E as mesas os montes.
    Criados em tempos imemoriais para esse único fim!
Mas onde estão os tronos? E os templos? E os vasos
    Cheios de néctar que com os cânticos deliciavam os deuses?
E onde se encontra agora o brilho dos oráculos que o longe abarcavam?
    Delfos dormia, e onde ressoa o destino grandioso?
Onde paira, veloz? Onde se anuncia, trovejante, cheio de felicidade omnipresente
    Atravessando os ares serenos, ofuscando-os os olhos?
Pai Éter! gritavam e esse grito corria de boca em boca, 
    De mil maneiras, pois ninguém era capaz de, sozinho, suportar a vida;
Compartilhar tamanho bem causa alegria e comunicá-lo aos estranhos
    Enche de júbilo e durante o sono cresce o poder da palavra
Pai! Ó Sereno! E eis que esse sinal antiquíssimo, herdado dos antepassados, 
    Ecoa, enchendo a distância, certeiro e fecundo. 
Deste modo voltarão os Celestiais, despontando das profundezes
    Das sombras chega o seu dia até aos homens."

Friedrich Hölderlin, "O Pão e o Vinho", in Elegias, trad. Maria Teresa Dias Furtado. Lisboa: Assírio & Alvim, 2000, p. 71. 

No comments: