"Apesar de tudo, podemos facilmente convocar uma imagem que faça jus ao homem livresco e nos suscite um sorriso à sua custa. Imaginamos um ser pálido e esquálido, num quarto de vestir, perdido em especulações, incapaz de tirar a chaleira da trempe ou de falar com uma senhora sem corar, na total ignorância das últimas notícias, embora versado em catálogos de alfarrabistas, em cujas salas obscuras passa as horas da claridade - uma personagem deliciosa, sem dúvida, na sua complicada simplicidade, mas sem a mínima semelhança com a outra para quem dirigíamos a atenção. Porque o verdadeiro leitor é essencialmente jovem. Um jovem possuidor de uma intensa curiosidade: cheio de ideias; de mente arejada e comunicativo; alguém para quem a leitura é mais como um enérgico exercício ao ar livre do que horas de estudo entre quatro paredes; avança pela estrada principal e escala montanhas até a atmosfera ser quase rarefeita demais para conseguir respirar; para ele, esta não é de modo algum uma busca solitária."
Virginia Woolf, "Hours in a Library", in Ensaios Escolhidos, trad. Ana Maria Chaves, Lisboa: Relógio D'Água, 2014, p. 64.
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