"Há momentos em que o fulgor da tarde é tão sedoso e tranquilo que o construtor suspende o seu trabalho. As árvores e os muros têm então a vagarosa tranquilidade solar que é como um ébrio recolhimento do ser na matéria silenciosa das pedras, dos troncos e das folhas. A luz estende a sua toalha fulva e serena sobre um planeta árido e maciço e toda a sua energia se volve numa respiração homogénea e discreta, misteriosamente cálida. É este o momento em que o segredo da terra se alia à evidência do intacto e a plenitude solar se tinge de uma presença oculta que está tanto sob as aparências do mundo como no coração do construtor. Esta concordância produz o acorde único do ouro que fui entre uma nascente e um túmulo, entre a carência e a plenitude de uma vida solar. Este fermento de pura unidade conservá-lo-á o construtor nas suas veias e dar-lhe-á a inspiração pausada e leve dos gestos construtivos que tornarão a sua morada a habitação em suas presenças luminosas e claras.
António Ramos Rosa, O Aprendiz Secreto, 2.ª ed., Vila Nova de Famalicão: Quasi Edições, 2005, p. 33.
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