"Sentou-se à espera que
as últimas palavras
lhe indicassem o caminho
que o podia trazer de novo
à beira do precipício.
Por várias vezes iniciou
o poema, mas, ao longe,
um rumor levou-o a suspeitar
de uma presença que o parecia
sondar por entre os arbustos.
Fizesse o que fizesse, era
sob o seu olhar que escrevia,
elaborando cenários
a que depois as palavras
davam uma consistência
que no seu pensamento
ainda não possuíam:
escrevia para se inventar
uma saída para fora
do poema, arrastando
o mundo para uma cerimónia
que só pelo Horror,
no estertor dos signos,
se sabia conseguida."
[Fernando Guerreiro], Ventos Borrascosos, 100 Cabeças, 2019.
1 comment:
que bonito poema!
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