Saturday, April 18, 2020

ESPIRITUALISMO (para a memória do Divino Filipe Duarte)




"Como um vento de morte e de ruína, 
A Dúvida soprou sobre o Universo.
Fez-se noite de súbito, imerso
O mundo em densa e álgida neblina. 

Nem astro já reluz, nem ave trina, 
Nem flor sorri no seu aéreo berço. 
Um veneno sutil, vago, disperso, 
Empeçonhou a criação divina. 

E, no meio da noite monstruosa, 
Do silêncio glacial, que paira e estende
O seu sudário, donde a morte pende, 

Só uma flor humilde, misteriosa, 
Como um vago protesto da existência, 
Desabrocha no fundo da Consciência."


Antero de Quental, Sonetos Completos, Porto: Lello & Irmão, 1983, p. 148. 

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