"Como um vento de morte e de ruína,
A Dúvida soprou sobre o Universo.
Fez-se noite de súbito, imerso
O mundo em densa e álgida neblina.
Nem astro já reluz, nem ave trina,
Nem flor sorri no seu aéreo berço.
Um veneno sutil, vago, disperso,
Empeçonhou a criação divina.
E, no meio da noite monstruosa,
Do silêncio glacial, que paira e estende
O seu sudário, donde a morte pende,
Só uma flor humilde, misteriosa,
Como um vago protesto da existência,
Desabrocha no fundo da Consciência."
Antero de Quental, Sonetos Completos, Porto: Lello & Irmão, 1983, p. 148.
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