"- Oh! - disse Coquelin. - Não estou de acordo convosco.
- Não acreditais que neste mundo tudo é vão, fugaz e transitório?
- De forma nenhuma; eu acredita na permanência de muitas coisas.
- De quais, por exemplo?
- Bem, dos sentimentos e das paixões.
- Sim, sem dúvida. Mas não dos corações que os sentem. Os apaixonados morrem, embora o amor sobreviva. Ouvi o fidalgo dizê-lo em Chalais.
- É melhor que seja assim e não ao contrário. Mas os apaixonados também duram. Sobrevivem; vivem mais do que as coisas... a indiferença, a recusa, o desespero que de bom grado os destroem.
- Mas entretanto o objecto amado desaparece. Quando não acontece isso a um, acontece ao outro.
- Oh, admito que o mundo é inconstante. Mas tenho a tal respeito uma filosofia.
- Sinto curiosidade em conhecer a vossa filosofia.
- Tem muitos anos. É, muito simplesmente, tirarmos o melhor partido da vida enquanto ela dura. Gosto muito de viver - disse Coquelin a rir-se."
Henry James, Preceptores - Gabrielle de Bergerac, trad. Aníbal Fernandes, Lisboa: Sistema Solar, 2017, p. 74.
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"De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure."
Vinicius de Moraes
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