"Poesia, marulho e náusea,
poesia, canção suicida,
poesia, que recomeças
de outro mundo, noutra vida.
Deixaste-nos mais famintos,
poesia, comida estranha,
se nenhum pão te equivale:
a mosca deglute a aranha.
Poesia, sobre os princípios
e os vagos dons do universo:
em teu regaço incestuoso,
o belo câncer do verso.
Azul, em chama, o telúrio
reintegra a essência do poeta,
e o que é perdido se salva...
Poesia, morte secreta."
Carlos Drummond de Andrade, "Poesia Contemplada", in Antologia Poética, 2ª edição, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2002, pp. 237-238.
No comments:
Post a Comment