Dominique Fernandez, O Último dos Médicis, trad. Maria Delfina Chorão de Aguiar, Bertrand Editora: Venda Nova, 1996, pp. 114-115."«Senhor, não é admirável observar como, desde a origem dos tempos, a Natureza e a Arte rivalizam, esforçando-se cada uma por, alternadamente, estabelecer a sua primazia? Oh, vejo que não acreditas! Tu obedeces levianamente ao preconceito, segundo o qual a Natureza ocupa sempre o primeiro lugar, devendo a Arte contentar-se a ser um plágio servil. A Arte imita a Natureza, e os pintores não são mais do que humildes servidores do que ela expõe perante os seus olhos. Esta é a opinião da maioria. Não é honroso para ti partilhá-la! Porque se utilizasses a tua própria cabeça em vez de pensar com a dos outros, tu notarias que inúmeras vezes esta ordem considerada imutável, se encontra alterada.Lembras-te daquela lei de meu pai contra os açougueiros? Ordem para cortar as reses no interior das lojas, proibição de pendurar na rua os pedaços sangrentos de carne. A carne era julgada feia e repugnante. Era necessário um pintor para a obrigar a tornar-se bela e atractiva. O Stathouder da Holanda acaba de enviar a meu pai, em troca de uma remessa de tecidos de algodão e esparguete, ela por ela, um quadro que representa um quarto de boi suspenso na montra dum talho. A partir de agora, não veremos mais a carne qualquer coisa ignóbil, ela vai começar a imitar as cores magníficas desse Rinnbrat (que nome!), a bistecca vai tornar-se num obecto de admiração estética, a Natureza será forçada a admitir que foi ultrapassada pela Arte.»"
Wednesday, January 4, 2012
A NATUREZA INSURGINDO-SE CONTRA A ARTE
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