"- Então não lhe permite as paixões e afeições comuns entre os homens? - perguntou Paul.- Não tem ele uma paixão, uma afeição, que inclui tudo o resto? Além do mais, ele que tenha todas as paixões que queira... desde que mantenha a sua independência. Deve ter a liberdade de ser pobre.Paul soergueu-se com vagar.- Então porque me encorajou a aproximar-me dela?St. George pousou a mão no seu ombro.- Porque ela seria uma esposa magnífica! E eu ainda não o lera nessa altura.O jovem esboçou um sorriso tenso.- Era melhor que me tivesse deixado em paz!- Eu não sabia que isso seria pouco para você - retrucou o anfitrião.- Que posição desonrosa, que condenação do artista, que ele seja um mero monge desenraizado e só possa produzir o seu efeito se abdicar da felicidade pessoal. Que afronta à arte! - prosseguiu Paul com voz trémula.- Ah, não está a pensar que defendo a arte? "Afronta"... nem mais! Felizes são as sociedades em que ela não apareceu, pois desde o momento em que a acolhem possuem uma dor que as consome, uma corrupção incurável, no seu peito. É garantido que o artista toma uma posição desonrosa! Mas eu julgava que estávamos a partir desse princípio."
Henry James, "A Lição do Mestre", in Daisy Miller e outros contos, trad. Manuel Abrantes, Lisboa: Nova Vega, 2008, p. 115.
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