Sunday, January 29, 2012

O ARTISTA MARGINAL


"- Então não lhe permite as paixões e afeições comuns entre os homens? - perguntou Paul.
- Não tem ele uma paixão, uma afeição, que inclui tudo o resto? Além do mais, ele que tenha todas as paixões que queira... desde que mantenha a sua independência. Deve ter a liberdade de ser pobre.
Paul soergueu-se com vagar.
- Então porque me encorajou a aproximar-me dela?
St. George pousou a mão no seu ombro.
- Porque ela seria uma esposa magnífica! E eu ainda não o lera nessa altura.
O jovem esboçou um sorriso tenso.
- Era melhor que me tivesse deixado em paz!
- Eu não sabia que isso seria pouco para você - retrucou o anfitrião.
- Que posição desonrosa, que condenação do artista, que ele seja um mero monge desenraizado e só possa produzir o seu efeito se abdicar da felicidade pessoal. Que afronta à arte! - prosseguiu Paul com voz trémula.
- Ah, não está a pensar que defendo a arte? "Afronta"... nem mais! Felizes são as sociedades em que ela não apareceu, pois desde o momento em que a acolhem possuem uma dor que as consome, uma corrupção incurável, no seu peito. É garantido que o artista toma uma posição desonrosa! Mas eu julgava que estávamos a partir desse princípio."
Henry James, "A Lição do Mestre", in Daisy Miller e outros contos, trad. Manuel Abrantes, Lisboa: Nova Vega, 2008, p. 115.

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