"Nenhum de vós ao certo me conhece,
Astros do espaço, ramos do arvoredo,
Nenhum adivinhou o meu segredo,
Nenhum interpretou a minha prece...
Ninguém sabe quem sou... e mais, parece
Que há dez mil anos já, neste degredo,
Me vê passar o mar, vê-me o rochedo
E me contempla a aurora que alvorece...
Sou um parto da Terra monstruoso;
Do húmus primitivo e tenebroso
Geração casual, sem pai nem mãe...
Misto infeliz de trevas e de brilho,
Sou talvez Satanás; - talvez um filho
Bastardo de Jeová; - talvez ninguém!"
Antero de Quental, Sonetos Completos, Porto: Lello & Irmão, 1983, p. 139.
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