"Tenho assaz conservado o rosto enxuto
Contra as iras do Fado omnipotente;
Assaz contigo, ó Sócrates, na mente,
À dor neguei das queixas o tributo.
Sinto engelhar-me da constância o fruto,
Cai no meu coração nova semente;
Já me não vale um ânimo inocente;
Gritos da Natureza, eu vos escuto!
Jazer mudo entre as garras da Amargura,
D'alma estóica aspirar à vã grandeza,
Quando orgulho não for, será loucura.
No espírito maior sempre há fraqueza,
E, abafada no horror da desventura,
Cede a filosofia à Natureza."
Bocage, Opera Omnia, vol. I, prep. texto Hernâni Cidade, Lisboa: Livraria Bertrand, 1969, p. 140.
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