"Um círculo de trevas, a realidade; esquecê-la é consolar-se. Desvairado pelas derrotas da realidade, o espírito evade-se para a embriaguez do belo consolador.Cantou com os pastores da primitiva humanidade, suavizando-lhes o rigor dos ásperos dia; educou-se nas montanhas do Oriente e migrou para a Europa. Engrandecida pela força do gênio, ganhou mil formas, expandiu-se em todas as direções - estrela imensa! clareando o orbe inteiro e o recesso das almas, confortando, com o divino eflúvio, os corações deprimidos. Semelhante ao fogo, o êxtase consome-se no próprio ardor. Passa a embriaguez dos sentidos, passa o entusiasmo inteligente da investigação; fica a saciedade; a descrença, a fadiga, a morte. Extinta a chama, cinzas.Os transportes do belo, não. A floresta das ilusões, assaltada pelo inverno, esfolha-se folha a folha; a arte persiste. Desfere ainda, em pleno extermínio das energias, o canto glorioso do seu entusiasmo.Farol de Leandro, imortal e culminante, domina impávido o naufragar das eras.Feliz quem pode abismar-se no tempo ao clarão desse facho!"
Raul Pompéia, in A Poesia no Brasil, vol 1, org. Sônia Brayner, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981, pp. 330-331.
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