Wednesday, December 26, 2012

A CONVERSÃO (1)


"Por fim, foi preciso abrir o caixão de chumbo para se reconhecer o corpo. Mas este vinha tão desfigurado, que apenas se pôde conhecer pelo nariz, e não havia ninguém que fosse capaz de afirmar que aquele rosto e aquela figura, que exalava um odor pestilencial, era, ou fora, a formosíssima imperatriz. Nem o marquês de Lombay, que tinha de consignar a entrega do corpo, se atreveu a jurá-lo.  O que Francisco de Borja jurou foi que, segundo «diligência e cuidado» que se havia posto em trazer e guardar o corpo da imperatriz, tinha por certo «que era aquele, e que não podia ser outro». Os clérigos e os nobre presentes, como o cardeal de Burgos, o arcebispo de Granada, o marquês de Villena e o de Mondéjar, D. Fradique de Portugal, Rui Gomes da Silva, futuro príncipe de Éboli, apartaram-se da horrorosa visão. Menos o marquês de Lombay, que «pelo amor particular e reverência que sempre havia tido à imperatriz» - conta Sandoval - não conseguia afastar-se, «nem desviar os olhos daquela Senhora que pouco antes era tão formosa e estimada no mundo.»"
  Manuela Gonzaga, Imperatriz Isabel de Portugal, Lisboa: Bertrand Editora, 2012, p. 488.

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