"Calfúrnia - Em que pensas, César? Pensas em sair? Não, hoje não sairás de casa.César - César há-de sair. Os prenúncios que me ameaçam ainda me não viram de frente; quando me virem cara a cara, eles desaparecerão.Calfúrnia - César, eu nunca dei importância a prodígios, e todavia hoje assustam-me. Contam-se para aí cousas horríveis que apareceram às sentinelas, ainda além das que nós vimos e ouvimos. Uma leoa pariu no meio duma rua; os túmulos escancararam-se e expeliram de si os cadáveres; viram-se guerreiros a combater furiosamente nos ares, a ponto que o sangue gotejava sobre o Capitólio! O ruído do combate ressoava nos ares; os cavalos nitriam, gemiam os moribundos, fantasmas ululavam pelas ruas! Ó César! estas cousas sobrenaturais infundem-me receios!César - E pode-se evitar o que os deuses determinam? César sairá; porque essas predições tanto se podem referir a César como a todos em geral."
William Shakespeare, Júlio César, trad. A. J. Anselmo, Porto: «Renascença Portuguesa», 1916, pp. 58-59.
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