Sunday, May 12, 2013

DIFERIR


"Como se, por vezes, a escrita a si própria não se bastasse
e frágil, o equilíbrio das frases -
o sentido então a esboroar-se -
numa rotura íntima
(o corpo de encontro à palavra -
entre o nada e o que o acaba)
num intervalo, profundo, ruísse.
Como se, a escrita,
a frase sobre si mesma se voltasse, indizível -
ou, perdido que foi o seu antigo fascínio,
difícil de reconhecer por escrito.
Como se o seu espelho - no fim, partido -
do corpo o Eu diferisse,
uma desritmia sendo
de puros fragmentos perdidos
que nenhuma mão do alto jogasse
no azul tabuleiro infindo (E sem sentido)."
  Fernando Guerreiro, Fractus vocis - um poema do íntimo, Lisboa: Edição do autor, 1987, p. 36.

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