"O actor preocupava-se também em alargar os ombros até mais vinte centímetros de cada lado. Por vezes, os ombros eram ainda mais elevados com um chumaço muito espesso, a ponto de atingirem a altura das orelhas; assim, o pescoço situava-se exactamente onde terminava a cabeça. Estou a falar do máximo de exagero. Recorria-se a estes artifícios quando se queria fazer entrar em cena uma divindade, um herói, como Hércules, por exemplo. Neste caso, a cabeça começava na fronte do actor, ou seja, a máscara era colocada sobre a sua cabeça como um grande chapéu, a boca do actor ficava à altura do pescoço da máscara e este falava através de orifícios disfarçados. Havia ainda um outro truque: elevando o corpo, os braços, que saíam da clâmide ou da toga, pareciam curtos, deselegantes, e era necessário dotá-los de um comprimento credível. Para isso, o actor agarrava nos pulsos de mãos falsas articuladas, semelhantes às dos manequins e das marionetas: bastava mover, dentro da manga, o pulso e a impressão colhida era de discreta semelhança com o real. Com estes recursos, o actor conseguia atingir até dois metros, dois metros e meio. É bom recordar que a estatura média de uma mulher e de um homem gregos, naquele tempo, era inferior a um metro e meio. Tudo indica que, apesar de tudo, os actores conseguiam mover-se com uma certa agilidade. Aliás, já vi intérpretes do Odin Teatret sobre andas de dois metros, também eles com braços falsos e máscaras no rosto, a rodopiarem e a executarem saltos e até cambalhotas."
Dario Fo, "Os Gregos não eram antigos", in O amor e o escárnio, trad. Maria de Fátima St. Aubyn, Lisboa: Gradiva, 2008, p. 134.
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