"Dizia Martins Sarmento que estamos mais perto das orcas, castros e citânias do que se imagina. Pelo menos, não fica longe o bicho que habitava essas construções. A nossa sumptuária, os nossos quadros, o nosso aparelho de rádio, os nossos automóveis, a nossa própria poesia e ciência são uma espuma irisada e fátua ao lado do fundamental da nossa natureza e da essência das coisas. O fundamental é o instinto, a garra da vida que nos subjuga e nos obriga aos mesmos actos de confiança ou carantonhas de ódio, como então e como hoje. O coração do homem, se espraiarmos olhos ao que se passa pelos povos, não se destemperou em sua fereza e agressividade. No dia em que deixar de ser assim, tornando-se os homens anjos, iguais em direitos e deveres, verdadeiramente fraternos, fartinhos e contentes, e que por cima deles não caiam bombas dos Liberattor, nesse dia acabou-se o mundo."
Aquilino Ribeiro, Geografia Sentimental, Lisboa: Bertrand, 2008, p. 226.
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