Monday, May 6, 2013

ESTADISTA


"Elas debalde o presenteavam... Deixem-no em paz digerir, deixem-no fartar-se de anedotas obscenas em Mafra, de cantochão, de festas de igreja, de rapé. Outros se encarregavam de lhe fazer os filhos, e, como D. Carlota Joaquina pedia favores para os amantes, ele próprio os despachava para lugares rendosos, sublinhando com esperteza «por justos e particulares motivos que tenho presentes...» É que nao queria que o tomassem por tolo. Coçava a papeira, afiava certos ditos, era filósofo. Muito mais tarde havia o povo revolto de lhe rodear o carro aos gritos de  - viva o povo soberano!
E ele de si para si resmungava:
- Pois sim, sim, viva o povo soberano, mas eu cá ando de carro e vocês andam a pé..."
 Raul Brandão, El-Rei Junot, Lisboa: IN-CM, 1982, pp. 78-79.

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