Friday, June 21, 2013

BELEZA CONTINGENTE


"Franz disse: «Na Europa, a beleza foi sempre premeditada. Havia sempre uma intenção estética e um projecto de grande fôlego; uma catedral gótica ou uma cidade renascentista que obedecessem a esse projecto demoravam séculos a construir. A beleza de Nova Iorque tem uma origem completamente diferente. É uma beleza involuntária. Nasceu sem que houvesse qualquer intenção por parte do homem, um pouco como uma gruta de estalactites. Formas que, isoladas, são horrorosas, encontram-se aqui umas ao lado das outras numa vizinhança perfeitamente improvável, que inesperadamente as fa brilhar, com uma poesia mágica.»
Sabina disse: «A beleza involuntária. Claro. Mas também podia dizer-se: a beleza por engano. Antes de deixar definitivamente o mundo, a beleza ainda há-de subsistir alguns instantes, mas por engano. A beleza por engano é o último estádio da história da beleza.»"
Milan Kundera, A Insustentável Leveza do Ser, trad. Joana Varela, Lisboa: RBA, 1994, p. 111.

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