"Experimente-se deitar pedras à parede
para ver se à nossa frente o pensamento
frutifica: devastada, a linguagem comunica
-nos a experiência dos limites com que
se debate a poesia. E no entanto, no poema,
as palavras amontoam-se, ensurdecendo
-nos com o estrondo que a linguagem
faz ao cair no caminho. Com efeito,
para quem nela pensa, é sempre
ruinoso o seu exemplo e dorido
o seu sentido: dir-se-ia que,
esgotadas as palavras, só a poesia
cumpre os desígnios da vida.
Alimentados os pássaros
- em relevo sobre a paisagem -
nos seus pios extingue-se,
só para que o contemplemos,
o ruído do absoluto."
Fernando Guerreiro, Caminhos de Guia, Lisboa: Black Son, 2002, p. 26.
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