Monday, June 24, 2013

HABRÓCOMES


"Este Harbrócomes, a cada dia que passava, ficava mais belo e, juntamente com a beleza física, floresciam nele igualmente as virtudes da alma. Tinha uma educação completa: não só praticava uma gama variada de artes, como também lhe eram exercícios habituais a caça, a equitação e a luta com armas. Era muito estimado, não só por todos os efésios, mas também pelos que vivem no resto da Ásia, que depositavam nele grandes esperanças de um dia ele vir a ser um cidadão destacado. Tratavam o rapaz como um deus. E até havia quem se prosternasse à sua frente e lhe fizesse súplicas. O rapaz tinha-se em grande conta, sentindo orgulho não só das suas virtudes intelectuais, mas, sobretudo, da sua beleza física. Passou então a menosprezar tudo o que era tido por belo, considerando tudo isso inferior a si próprio; o que via e ouvia não lhe parecia ser digno de Habrócomes. E, se ouvia falar de um rapaz belo ou de uma rapariga formosa, troçava dos que assim falavam, como se não soubessem que belo só havia um: ele próprio. Até Eros, ele não o tinha por um deus. Rejeitava-o completamente, não lhe dando importância alguma; dizia que ninguém se apaixona ou se submete ao deus a não ser de sua livre vontade. Se, por acaso, via um templo ou uma estátua de Eros, começava a rir e arrogava-se superar Eros em beleza e poder. E assim era de facto: onde quer que Habrócomes aparecesse, nenhuma estátua parecia bela, nenhuma imagem recebia elogios."
 
Xenofonte de Éfeso, As Efesíacas - Ântia e Habrócomes, trad. Vítor Ruas, Lisboa: Edições Cosmos, 2000, L 1, pp. 3-4.

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