"A casa abre fendas dos pés à cabeça
E ergo-a como quem necessita de estancar o sangue
Não consigo libertá-la da dinamite que trouxe das pedreiras
- Os veios caudalosos das pedras mais urgentes
A circulação em todos os compartimentos.
O miolo do lume é de líquido quente como o sangue
Se estivesse bom tempo - prometi - para a travessia
Passaríamos devagar a linha
do horizonte.
Carrego a casa como um fardo
Carrego-a como promessa e o rasto
Carrego a explosão da pedreira nos montes
O que sangro
Para o tempo da colheita queria um jumentinho
Costurar a casa tábua a tábua, encerar o soalho
Estendê-lo com passadeiras por dentro e por fora
De mim. Calcetar-me e aplanar-me e pensar
Vem
Virias - calculo, e embalo a casa
O baloiçar que aprendeu nos ventos -
Estendendo a linha vagarosa da viagem pelos anos
Puxando o jumentinho, o meu sangue sobre as fendas.
Daniel Faria, Poesia, 2ª ed., Lisboa: Assírio & Alvim, 2015, pp. 316-317.
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