"Prudente, o deus esconde em caliginosa noite
o resultado do tempo futuro e ri,
se o mortal se inquieta mais
do que o permitido. Lembra-te de ordenar
com serenidade o teu presente: tudo o resto se arrasta
como num rio, que ora em paz desliza
pelo meio do seu leito até ao seu mar etrusco,
ora revolve em tumulto
as rochas erodidas, os troncos arrancados, o gado,
as casas, ressoando seu clamor nos montes
e nas vizinhas florestas,
assim que o iracundo dilúvio
as quietas águas enfurece. Será dono de si
e viverá feliz aquele que pode, no final de cada dia,
dizer: «Vivi. Amanhã, que o Pai cubra
o céu com negras nuvens,
ou com os puros raios do sol; contudo,
aquilo que para trás já ficou não há-de anular,
nem alterar ou desfazer
aquilo que fugidia já trouxe a hora.
A Fortuna, feliz no seu cruel negócio,
insistindo em jogar seu arrogante jogo,
suas incertas honras transfere
ora para mim, ora favorável para outro."
Horácio, Odes, III, 29, trad. Pedro Braga Falcão, Lisboa: Cotovia, 2008, p. 252.
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