"Por exemplo: tal como os cacos de um vaso, para se poderem reajustar, têm de encaixar uns nos outros nos mais pequenos pormenores, embora não precisem de ser iguais, assim também a tradução, em vez de querer assemelhar-se ao sentido do original, deve antes configurar-se, num acto de amor e em todos os pormenores, de acordo com o modo de querer dizer esse original, na língua da tradução, para assim tornar ambos, original e tradução, reconhecíveis como fragmentos de uma língua maior, tal como os cacos são os fragmentos do vaso inteiro. Por isso ela deve prescindir em alto grau da intenção de comunicar alguma coisa, do sentido; o original só é essencial para ela na medida em que dispensa o tradutor e a sua obra do esforço e da disciplina de dar expressão aos conteúdos a comunicar."
Walter Benjamin, Linguagem Tradução Literatura (filosofia, teoria e crítica), trad. João Barrento, Lisboa: Assírio & Alvim, 2015, p. 102.
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