Saturday, June 15, 2019

CRUZAR



"Pulcra foi aqui a luz: acaso um corpo. 
Amei como a uns rios, e fulgores os beijos, mortos deram. 
Porque quem lembra acalma
um som, mas não outros brilhos. 
No silêncio ainda luz, e ela não recua. 

Não é o mesmo mais beijos, 
mais palavras cruéis, 
que o silêncio herdado que ainda se escuta. 
Frágil, tenso. É azul. Céu? E são nuvens. 
Brancas nuvens sem paz que feridas cruzam."


Vicente Aleixandre, Poemas da Consumação, trad. Armando Silva Carvalho, Lisboa: Liber, 1979, p. 82. 

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