"Estavam ambos na orla do mundo conhecido, e cairiam no desconhecido porque a vertigem não os deixava explicar-se melhor."
"Estavam ambos na orla do mundo conhecido, e cairiam no desconhecido porque a vertigem não os deixava explicar-se melhor."
"Ele, o homem, através de todos os tormentos, já sentia o paraíso. Farejava-o como provisão prometida a todos os mártires da carne. Como devia ser bom, comparado com a fealdade da existência! Desde o começo da vida deste mundo, as coisas complicavam-se."
"Por sorte havia o céu. Como é que poderíamos viver sem nos lembrarmos do céu? Como bem sabíamos, aqui nos encontrávamos de passagem."
"A manipulação destas ideias provocava-me uma euforia crescente. Acumulei provas que demonstravam que a minha relação com os intrusos era uma relação entre seres de diferentes dimensões. Nesta ilha poderia ter sucedido uma catástrofe imperceptível para os seus mortos (eu e os animais que a habitavam); depois teriam chegado os intrusos."
"Assim era pelos vistos nos tempos longínquos e obscuros, quando havia profetas, quando havia menos ideias e menos palavras, quando era jovem a lei terrível que fazia pagara morte com a morte, quando os animais ainda tinham amizade com o homem e o relâmpago lhe estendia a mão - assim, naqueles tempos longínquos e estranhos, o transgressor ficava exposto às mortes; a abelha picava-o, o touro de cornos aguçados marrava contra ele, a pedra esperava pela hora da sua queda para partir a cabeça descoberta do homem; e a doença rasgava-o à vista de todos, como um chacal rasga uma carcaça; e todas as setas, desviando-se do seu voo, procuravam o seu coração negro e os seus olhos baixos; e os rios mudavam o seu curso, fazendo aluir a areia sob os seus pés, o seu próprio potentado oceano lançava à costa as suas ondas alterosas e, rugindo, enxotava-o para o deserto.Milhares de mortes, milhares de túmulos."
Levaram-me o orgulho todo
deixaram-me a memória envenenada
e intacta a torre de marfim.
Só não sei que fala da porta da torre
que dá para donde vim."
José de Almada Negreiros, Poemas, 3.ª ed., Lisboa: Assírio & Alvim, 2017, pp. 167-168.
"E vós, tendo ouvido dizer que nós esperamos um reino, supusestes, sem refletir, que nos referíamos a um reino humano, quando, na verdade, se trata do reino junto de Deus, como mostra o facto de que, quando interrogados por vós, confessarmos ser cristãos, cientes como estamos de quem confessa incorre na pena de morte.
Efetivamente, se esperássemos por um reino humano, renegaríamos para evitar a morte e tentaríamos esconder-nos, a fim de alcançar o nosso objetivo. Mas uma vez que não colocamos as nossas esperanças no tempo presente, não nos inquietamos com ter que morrer, dado que, de qualquer modo, havemos de morrer."
Justino, Em Defesa dos Cristãos, I, XI, 1-2, trad. Isidro Pereira Lamelas, Lisboa: Paulus Editora, p. 66.