"Andamos apressados na colheita dos dias,
não vá o Sol queimar a pele dos frutos,
a chuva magoar as novidades,
o vento derrubar as flores da macieira,.
Temos medo de chegar tarde
ao tempo da fartura.
De fome nos contaram
velhos homens de viagens,
mulheres jovens dispostas ao amor.
Vamos cabisbaixos,
cães com dono e coleira,
amarrados à cantata da fama,
à luz do pote de oiro.
Chegaremos ou não
a colher as virtudes e as glórias.
Assim curvados não veremos
a alegria de uma flor de Inverno.
Temos pressa.
Outro tempo virá,
o da flor desmaiada,
da porta fechada.
Da rua nem se fala,
que o seu nome perdemos,
para sempre."
Licínia Quitério, Travessia, Braga: Poética Edições, 2019, p. 30.
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