Sunday, November 8, 2020

ACREDITAR

 



"Oiço respeitosamente. Depois, eles calam-se e eu, no chão, esperneio. Digo:
- Apelo.
- Apelas a quem?
- A quem possa melhorar o Homem.
- Para que não haja ruído?
- Para que o Homem não se cause danos ao Homem. Nem danos visíveis nem danos invisíveis. 
- E se o fizer sem o saber?... Se ele pensa que está a emitir música e tu recebes ruído?...
- Oh! - Desespero ao ver que estão a usar os secretos argumentos da minha mente. - Nesse caso é preciso acreditar na palavra do Homem. É preciso que baste levantar a mão e dizer «Não incomodes», para que o outro recue ao compreender que para certa pessoa, o seu jasmim é uma lança.
Às vezes distraio-me e penso assim, em forma de diálogo. Só que, como se fossem reais, estes diálogos intensos ferem-me."


Antonio Di Benedetto, O Silencieiro, trad. Isabel Pettermann, Amadora: Cavalo de Ferro, 2020, p. 80. 

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