Sunday, February 23, 2014

CONTEMPLO



"Há seres destinados a passarem como sombras pela vida, sem ocuparem nunca lugar definido nem adquirirem vulto ou fisionomia que os distinga. Creio bem, sem amargura nem despeito, que este é o meu caso, e que o meu destino será diluir-me no tempo, deslizar silencioso ao longo das outras vidas, sem ao menos deixar vestígio da passagem. 
Sei que o período de vida decorrido até agora não permite por enquanto, breve como é, julgar do que virá a ser a forma final da minha existência terrena. Mas nem isso destrói a obscura certeza, a profunda intuição (um pouco dolorosa, devo confessá-lo) da minha insanável insignificância, do meu peso nulo na balança do mundo."


Esther de Lemos, Companheiros, 2ª ed., Lisboa: Ática, 1962, p. 5. 

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