Monday, February 3, 2014

FRIALDADE




"Faz frio. Mas, depois duns dias de aguaceiros, 
Vibra uma imensa claridade crua. 
De cócaras, em linha, os calceteiros, 
Com lentidão, terrosos e grosseiros, 
Calçam de lado a lado a longa rua. 

Como as elevações secaram do relento, 
E o descoberto sol abafa e cria!
A frialdade exige movimento:
E as poças de água, como um chão vidrento, 
Reflectem a molhada casaria."
(...)


Cesário Verde, Poesia Completa, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2001, p. 102. 

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